A primeira vez em que Felipe Vieira Costa ouviu falar da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) foi em um comercial de televisão. Mas o estudante não deu muita atenção à competição até que o professor de matemática Belchior Almeida Silva o incentivou a participar da olimpíada, em 2010. De lá para cá, foram nada menos do que sete medalhas da OBMEP e um longo caminho trilhado para que o aluno, hoje com 22 anos, se formasse em Matemática Aplicada na Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, instituição na qual atualmente cursa o mestrado.
Nascido em São Paulo capital, onde morou até os nove anos de idade, Felipe demonstrou gosto pela matemática desde cedo. Teve contato com a OBMEP quando já morava em Sítio do Mato, cidade do interior da Bahia com 13 mil habitantes, momento que acredita ter sido determinante. “Com toda certeza a OBMEP influenciou muito o meu futuro! Provavelmente sem a olimpíada e todo o incentivo desse universo eu seria só mais um aluno bom em matemática de uma cidade do interior da Bahia. Eu não teria chegado tão longe. Sou uma pessoa bastante movida pelo incentivo e pela empolgação. A OBMEP me fez gostar de estudar e me desafiou cada vez mais”, afirma.
Incentivo vem de casa
A família do medalhista foi uma forte incentivadora dos estudos de Felipe. Apesar de ter tido a formação interrompida no 9º ano, seu pai, o comerciante Quirino Sousa Costa, de 46 anos, sempre acreditou no conhecimento como ferramenta de transformação social, relata o medalhista. Já a mãe, Maria Conceição Vieira, de 43 anos, tem uma relação próxima com a educação por ter feito o magistério. “Minha mãe tinha sua paciência testada diariamente com as minhas perguntas”, brinca Felipe.
Ela, por outro lado, não parece ter se incomodado com a sede de conhecimento do medalhista, e não dispensa elogios ao filho. “Quando era bem pequeno ele encontrou uma calculadora, começou a perguntar sobre os números e foi aprendendo. Depois, perguntou sobre os sinais matemáticos e eu o ensinei. Então o brinquedo dele era esta calculadora”, relembra. Segundo Maria Conceição, o menino se interessava pelos cálculos mais complicados, pegando a família de surpresa. “Uma vez, quando o avô do Felipe estava fazendo uma conta de hectares com alguém, ele foi até lá e respondeu a conta antes que o avô terminasse de fazê-la. Lembro de todos olhando pra ele. Ele gostava de ser desafiado com cálculos difíceis”, afirma Maria Conceição.
Apesar do gosto pela disciplina, a primeira experiência de Felipe na OBMEP gerou certa estranheza ao aluno, que à época cursava o 6º ano do Ensino Fundamental. “Achei a prova muito divertida e diferente da matemática que eu via na escola. Senti que eu precisava pensar bastante e não era só aquela matemática regrada”, diz. Ao invés de assustá-lo, o desafio o instigou a ir mais longe. Já em 2010, Felipe foi premiado com uma medalha de bronze, mas não pôde participar da premiação regional. "Fiquei chateado de ter perdido o evento porque foi a primeira vez que ganhei um prêmio. Como eu estava muito confiante, disse aos meus pais ‘fiquem tranquilos, vou estudar mais dessa vez e ganhar uma prata”, conta.
Decidido a conquistar uma medalha de prata, já que acreditava que o ouro estava muito distante da realidade da sua escola, de um gás em seus estudos. Mas o destino veio a mostrar que ele havia se enganado. Em 2011, ele recebeu seu primeiro ouro, e não parou por ali. Repetiu a proeza ano após ano até 2016, quando se formou na escola. Embora tenha participado de muitas cerimônias, a primeira premiação nacional é um dos momentos que Felipe guarda com carinho na memória. “Foi a primeira vez que viajei de avião! Eu gravei um vídeo para a minha mãe dizendo ‘mãe, estou voando’ da janela do avião. Foi uma viagem muito legal e conheci várias pessoas novas”, conta.
Caminho de conquistas
Durante as primeiras experiências com a olimpíada, Felipe usava os livros da escola e jogava sudoku para praticar a lógica. A partir da segunda medalha conquistada, começou a frequentar as aulas do Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC). “Foi nesse ponto em que tudo mudou! Depois de um ano inteiro de contato com a matemática de nível universitário, a experiência do PIC me ajudou muito a conquistar mais premiações e até no meu desempenho na faculdade”, constata. O PIC foi não só um espaço para expandir o conhecimento, mas também uma oportunidade de criar novas relações e experiências. “Ter contato com pessoas que gostam de matemática e poder conversar sobre isso é sempre muito bom. São pessoas que tiveram um contato mais profundo com a matemática e estão lá para aprender”, afirma.
Dali para frente, as sucessivas premiações deixaram de causar espanto para se tornarem momentos esperados com muita ansiedade. O desafio de todos os anos era aprimorar-se no estudo e conquistar melhores posições, o que Felipe encarou com empolgação. “Amo aprender coisas novas sobre a matemática, é muito prazeroso! No Ensino Fundamental eu só pensava em me divertir com o conhecimento. Mas já no Ensino Médio, comecei a refletir sobre que profissão seguir. A Matemática Pura me interessava, assim como as Ciências Contábeis”, conta.
Em 2016, Felipe Vieira foi convidado a fazer o processo seletivo para a Fundação Getúlio Vargas e recebeu ajuda de custo e moradia para cursar a graduação em Matemática Aplicada na instituição, onde se formou ao final de 2020. A mãe se encheu de orgulho. “A notícia de que ele iria para a FGV foi muito emocionante e, ao mesmo tempo, o coração apertou ao saber que ele iria morar tão longe. O Felipe é muito determinado e disse pra mim que iria morar no Rio desde a ida dele para a cidade na primeira cerimônia da medalha de ouro, com 12 anos”, afirma Maria Conceição.
Atualmente, Felipe cursa o mestrado em Modelagem Matemática também na FGV. “Quero ser pesquisador, mas confesso que gostaria de algum dia ser professor de matemática! Eu gosto de ensinar e passar o conhecimento, então espero um dia poder dar aula”, completa. O mestrando defende que a curiosidade para a matemática aflorada pela OBMEP foi primordial para a sua decisão. “Uma coisa que adoro na matemática é a parte científica dela. Sempre existem perguntas e sempre vai haver algo para se descobrir. Isso me cativa.”