Morador da favela do Timbó, em João Pessoa (PB), Leonardo Lima, 19, é um dos multimedalhistas da OBMEP, com seis medalhas de ouro e uma de bronze - premiações conquistadas em sete edições da olimpíada, da qual começou a participar no sexto ano do Ensino Fundamental
Filho de mãe solo, Léo conta que teve a vida influenciada pela OBMEP. Hoje, com o símbolo da Olimpíada tatuado no braço, ele é aluno do curso de licenciatura de Matemática na UFPB (Universidade Federal da Paraíba). O primeiro contato do universitário com a OBMEP foi através de uma prova “surpresa” quando ainda tinha 10 anos.
“Sempre gostei de matemática desde novinho, mas não tinha aptidão, passei a ter depois da OBMEP. Lembro que a primeira prova chegou na minha mesa, o professor falou que tínhamos que fazer. Olhei a primeira, segunda e terceira questões e fui vendo que a prova era interessante. De 20, acertei 7, bem próximo da nota de corte e fui para a segunda fase. Comecei a pesquisar sobre a OBMEP e me apaixonei. Na segunda fase, ganhei medalha de bronze”, contou o estudante.
Após a primeira conquista vieram outras seis medalhas: todas de ouro! No entanto, o caminho para chegar até as premiações não foi simples: Leonardo teve que estudar por conta própria. Da mãe, que faleceu em 2017, ele recebeu o incentivo necessário para não desistir dos sonhos. De alguns professores, ele teve ajuda de custo com transporte para realização de diferentes provas. O estudante conta que a OBMEP ajudou a transformar a sua vida.
“Hoje, estou na universidade fazendo licenciatura em Matemática por conta do que a OBMEP trouxe para a minha vida: uma mudança de perspectiva de olhar, de ver de onde venho, o que represento e sentir que posso mais! A OBMEP me deu essa força de vontade.”
Memórias da Olimpíada
Na cerimônia de premiação da 15ª edição da OBMEP, que ocorreu em novembro, em Salvador, na Bahia, o medalhista recordou com carinho da sua trajetória e da primeira medalha de ouro que recebeu. A conquista resultou também na sua primeira viagem de avião para a cerimônia, realizada, na ocasião, no Rio de Janeiro. Leonardo lembrou também com entusiasmo das mensagens que recebeu da mãe.
“Uma emoção extremamente grande! Foi no Rio de Janeiro, acho que no Teatro Municipal. Aí foi a primeira vez que eu estava viajando de avião, minha mãe me mandando mensagem dizendo que eu era um orgulho, foi uma sensação completamente indescritível”, lembrou.
A mãe de Léo, dona Maria da Conceição, precisou abandonar a escola para cuidar de seis filhos, entre eles, um sobrinho deficiente. Mesmo diante das dificuldades sociais impostas à família, que vivia com auxílios governamentais, o estudante avaliou que vivia bem. “Faltava muita coisa, mas andávamos na linha e vivíamos bem. Minha mãe faleceu em 2017, mas sempre ensinou o que tínhamos que fazer pra conseguir alguma coisa. Tive o incentivo dela enquanto pude”, contou Leonardo.
Além de se dedicar aos números, Leozin, como é conhecido no meio artístico, é MC e compositor. Ele ainda participa de batalhas de rap. “É uma cultura que me sinto muito à vontade, é um sentimento único, a matemática e o rap são duas coisas que vejo muita semelhança porque me vejo muito à vontade nelas.”
Para o futuro, Leonardo faz planos de estudar no IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), no Rio de Janeiro.