Morador de Cipotânea, município de Minas Gerais com 7 mil habitantes, Mateus Pereira dos Santos, de 15 anos, conquistou não somente a sua primeira medalha de ouro, mas também a primeira amarelinha da história da cidade, que fica a 239 km de Belo Horizonte, capital do estado. O resultado foi alcançado durante a 17ª edição da OBMEP, cuja lista de premiados foi divulgada em 20 de dezembro do ano passado.
Aluno da Escola Estadual José Dias Pedrosa, o adolescente começou a participar da competição científica em 2019, quando ainda estava no 6º ano do Ensino Fundamental. Na ocasião, ele foi premiado com uma medalha de bronze. Já em 2021, foi a vez de receber a prata. O estudante, que coleciona ainda outras 12 premiações de olimpíadas do conhecimento, conta que se inspirou no irmão mais velho - também medalhista.
“Foi no 6º ano que comecei a fazer olimpíadas, com a OBMEP. Via meu irmão mais velho fazendo as provas. Ele foi uma inspiração para mim, pois quando vemos alguém fazendo algo interessante, queremos fazer também. Além disso, sabia que a premiação da OBMEP poderia nos ajudar muito no futuro, que trazia benefícios. Este ouro é uma conquista enorme para um aluno de escola pública e cidade pequena”, destacou.
Mateus contou ainda que não esperava um resultado tão positivo.
“Sabia que tinha ido bem na prova, achei que iria ganhar uma medalha, mas não esperava que ficasse tão bem colocado. Foi uma felicidade enorme! A escola colocou uma faixa em minha homenagem, me incentivaram a continuar”, recordou.
Em uma entrevista à Rádio Roquette-Pinto, com sede no Rio de Janeiro, o diretor-adjunto do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e coordenador-geral da OBMEP, Claudio Landim, destacou o desempenho do aluno.
“No nível dois, que são alunos dos 8º e 9° anos, nós temos um aluno de Cipotânea, pequeno município de Minas Gerais, que tirou primeiro lugar na frente de alunos do Colégio Militar e de Institutos Federais, o que mostra que essa prova é capaz de detectar alunos com talento. E depois, não adianta detectar os alunos e deixá-los por conta própria. Então, todos medalhistas recebem uma bolsa do CNPq para participar do Programa de Iniciação Científica para que eles possam aprender uma matemática que vai tentar desenvolver esse talento, além de estimular os estudantes a prosseguirem seus estudos.”
Luciana Guimarães, professora de matemática do Mateus desde o 6º ano, contou que o estudante se destacava na escola.
“Ele sempre foi um aluno exemplar, muito dedicado aos estudos e de um comportamento maravilhoso. Participou de tudo que a escola oferecia e obteve ótimos resultados. Se destacou na sala de aula, não só pelas notas das provas, mas pela educação e boa vontade em ajudar os colegas com dificuldades”, disse orgulhosa.
Mateus foi um dos estudantes convidados para o 7º Encontro do Hotel de Hilbert (EHH) que ocorreu no ano passado em Florianópolis (SC). Promovido pelo IMPA, através da OBMEP, o encontro reúne quase 200 alunos do 6° ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio com melhor desempenho no PIC. Durante quatro dias, os estudantes participam de atividades, aulas e desafios.
“A Obmep me ajudou a descobrir que eu tenho um futuro”
Por conta das premiações, Mateus teve acesso ao PIC (Programa de Iniciação Científica Júnior), que oferece aulas de matemática aprofundada e uma bolsa de R$ 100 mensais do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Mateus conta que os encontros do grupo foram importantes para progredir nos estudos.
“Eu acho que a OBMEP foi uma das coisas mais importantes que apareceram na minha vida. Já tinha gosto pela matéria, mas a olimpíada me ajudou a conhecer a matemática de uma forma diferente da que era apresentada na escola. No colégio, tentamos decorar algo e não entendemos como as coisas funcionam. Já no PIC, eles nos ensinam a perguntar o motivo das coisas e a entender a matemática de verdade.”
Para reforçar os estudos, Matheus acompanhava videoaulas gratuitas com resolução de problemas da OBMEP; utilizava material fornecido pelo próprio site da OBMEP e fazia provas de edições anteriores.
O estudante enfatizou ainda a importância da competição para o futuro dos jovens, principalmente aqueles que moram no interior.
“A OBMEP me ajudou a descobrir que eu tenho um futuro. Ela tem papel importante, já que muitas vezes alunos do interior ficam escondidos, pois nas capitais tudo é mais fácil, os estudantes têm mais apoio e infraestrutura. O interior tem muitos talentos que não conseguem realizar tanta coisa, pois não têm as mesmas oportunidades.”