Com uma família dedicada à colheita de maçã, Eduardo Alves da Silva, de 30 anos, é categórico ao afirmar que a OBMEP transformou a sua vida. Ex-aluno de escola pública, na cidade de Vacaria (RS), e três vezes medalhista da olimpíada, o doutorando do IMPA atribui à competição científica a decisão de cursar uma faculdade de matemática e, posteriormente, se dedicar a pesquisas na área.
Formado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Eduardo, que guarda uma medalha de prata, duas de bronze e ainda uma menção honrosa na OBMEP, conta como a participação no PIC (Programa de Iniciação Científica Júnior) e PICME (Programa de Iniciação Científica e Mestrado) ajudou na sua trajetória acadêmica.
“Eu acredito que estou aqui no IMPA por causa da OBMEP. Venho de uma família bem humilde e a olimpíada me trouxe uma visão de mundo. Ela me mostrou que podia conquistar muitas coisas através do estudo. À medida que ia me dedicando e participando do PIC, fui descobrindo que gostava muito de matemática e que tinha muito a aprender. Tive ainda a oportunidade de participar do PICME, que me permitiu aprimorar minha formação.”
Nesta segunda-feira (28), o estudante defende a tese de doutorado “Geometria log Calabi-Yau e mapas de Cremona”. A apresentação acontece na sala 232 às 11 horas e poderá ser acompanhada através do YouTube do IMPA.
Orientado pela pesquisadora do instituto Carolina Araujo, o trabalho explora as interações entre a Geometria log Calabi-Yau e os mapas de Cremona”. Em um contexto bidimensional, Eduardo investigou o grupo de decomposição de uma cúbica plana não singular sob a luz da geometria log Calabi-Yau e provou que um algoritmo apropriado do Programa de Sarkisov aplicado em um elemento deste grupo é automaticamente volume preserving, além de outros resultados.
“Existem muitos pontos que gostaria ainda de continuar investigando. Quem sabe tentar responder alguns problemas ainda sem resposta na área”, disse Eduardo sobre a sua área de pesquisa.
Em outubro, o doutorando embarca para França para um pós-doutorado de três anos na Universidade de Paris-Saclay.
Trajetória de esforço
Foi em 2012 que Eduardo deixou a cidade de Vacaria rumo à Porto Alegre (RS) para iniciar a graduação em Matemática, na UFRGS. Para se manter na cidade, no primeiro semestre da faculdade, ele precisou trabalhar como porteiro e se submeter a uma longa jornada de trabalho com apenas um final de semana de folga por mês. Somente após o primeiro período, ele conseguiu uma vaga na Casa do Estudante da UFRGS, onde também foi selecionado para atuar em alguns projetos como bolsista.
Seis anos mais tarde, Eduardo se mudou para o Rio de Janeiro para iniciar o doutorado em matemática pura no IMPA. A decisão foi marcada novamente por diversos desafios.
“Em alguns momentos, mesmo ganhando mais do que meu pai, que recebia um salário mínimo, precisei da ajuda dele para me manter aqui. O Rio tem um custo de vida muito alto, mas nunca pensei em desistir. Sabia que meu esforço seria recompensado. Agora, estou tendo uma oportunidade de ouro [o pós-doutorado]. Se não fosse a OBMEP, talvez, eu teria ficado em Vacaria, colhendo maçã - uma atividade muito importante, mas me mostraram que eu poderia ir além.”, concluiu Eduardo.